terça-feira, 18 de junho de 2013

Alana

LEIA OUVINDO.

Com tanta coisa a ser dita hoje em dia, numa realidade tão caótica em que vivemos, ainda assim existe a guerra. Não a civil, nem a mundial. A guerra interna. Que cada um de nós tem que enfrentar.

Sentada no meio fio, Alana observava, apática, o movimento das andorinhas no céu. As nuvens pontilhavam o céu com sua leveza e o sol as tingia em tonalidades de amarelo e rosa do amanhecer. A rua estava deserta, o que já era de se esperar sendo uma rua sem saída. De um bairro sem saída. De uma vida, sem saída.

Alana baixou os olhos, a rosa amarela continuava ali, intacta, em seu colo. Tomou-a em suas mãos, acariciou cada pétala e tornou a colocá-la em seu lugar de origem. Como era possível tudo isto ter acontecido, assim, tão de repente?



A serenidade do amanhecer trazia algo de belo consigo. Um toque de alivio talvez. Sua vontade era ficar ali, parada, naquele meio fio, olhando as andorinhas, sentindo a rosa se mexendo em seu colo com o movimento do vento, para sempre. Talvez assim, congelando-se nesta posição de serenidade, tudo poderia acabar. Tudo poderia mudar. O mundo poderia se resolver!

O sol finalmente surgiu entre as colinas, por detrás das casas, banhando com sua luz a pele rósea de Alana. Seus cabelos ruivos, ainda mais brilhantes agora expostos à luz, ondularam com as caricias do vento matinal. Uma decisão precisava ser tomada. Mas qual?  O que fazer? Qual o caminho?

Vazio. Não existe caminho. A rua, é sem saída. A vida, está sem saída. Este seria o momento exato para entrar em pânico, certo? Mas não. Não era este o sentimento que se passava no coração da garota. A rosa se moveu mais uma vez, despertando a consciência que já ia se apagando. Alana tomou-a em suas mãos e, num gesto sereno, arrancou as pétalas, devagar, uma a uma, e deposito-as, todas, na palma de uma das mãos. Uma súbita rajada de vento se ergueu do norte e soprou as pétalas ao longe, deixando Alana sozinha, apenas com o caule.


Ser como uma daquelas pétalas. Era tudo que ela queria. Ser levada pelo vento, deixar-se esquecer. Ser efêmera e, ao mesmo tempo, intangível. Inacessível às dores do irracional.

Se somente o amor fosse a razão de tudo isto, então seria fácil. Mas não. Havia muitas outras coisas envolvidas, coisas que não poderiam ser ditas, que deveriam ser guardadas, reprimidas. E isso era o que mais consumia o coração de Alana. Ser deixada para trás era apenas um dos fatos que construíam a torre de fatos de sua vida. Ela apertou o caule da rosa com força, na tentativa de se agarrar à única coisa tangível de toda esta grande bagunça. Reclinou-se para trás e deitou-se sobre a grama seca da entrada de sua casa. A luz do sol era refletida pelas janelas translucidas das casas. O mundo girava, sereno. Nada, afinal, traria uma solução repentina. A única cura? O tempo.

Alana, ouvindo o som das andorinhas no céu, olhou ainda uma vez para as nuvens amareladas e deixou que seus sonhos a levassem para um lugar melhor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário