LEIA OUVINDO.
Com tanta coisa a ser dita hoje em dia, numa realidade tão
caótica em que vivemos, ainda assim existe a guerra. Não a civil, nem a
mundial. A guerra interna. Que cada um de nós tem que enfrentar.
Sentada no meio fio, Alana observava, apática, o movimento das
andorinhas no céu. As nuvens pontilhavam o céu com sua leveza e o sol as tingia
em tonalidades de amarelo e rosa do amanhecer. A rua estava deserta, o que já
era de se esperar sendo uma rua sem saída. De um bairro sem saída. De uma vida,
sem saída.
Alana baixou os olhos, a rosa amarela continuava ali,
intacta, em seu colo. Tomou-a em suas mãos, acariciou cada pétala e tornou a
colocá-la em seu lugar de origem. Como era possível tudo isto ter acontecido,
assim, tão de repente?
A serenidade do amanhecer trazia algo de belo consigo. Um
toque de alivio talvez. Sua vontade era ficar ali, parada, naquele meio fio,
olhando as andorinhas, sentindo a rosa se mexendo em seu colo com o movimento
do vento, para sempre. Talvez assim, congelando-se nesta posição de serenidade,
tudo poderia acabar. Tudo poderia mudar. O mundo poderia se resolver!
O sol finalmente surgiu entre as colinas, por detrás das
casas, banhando com sua luz a pele rósea de Alana. Seus cabelos ruivos, ainda
mais brilhantes agora expostos à luz, ondularam com as caricias do vento
matinal. Uma decisão precisava ser tomada. Mas qual? O que fazer? Qual o caminho?
Vazio. Não existe caminho. A rua, é sem saída. A vida, está
sem saída. Este seria o momento exato para entrar em pânico, certo? Mas não. Não
era este o sentimento que se passava no coração da garota. A rosa se moveu mais
uma vez, despertando a consciência que já ia se apagando. Alana tomou-a em suas
mãos e, num gesto sereno, arrancou as pétalas, devagar, uma a uma, e
deposito-as, todas, na palma de uma das mãos. Uma súbita rajada de vento se
ergueu do norte e soprou as pétalas ao longe, deixando Alana sozinha, apenas
com o caule.
Ser como uma daquelas pétalas. Era tudo que ela queria. Ser
levada pelo vento, deixar-se esquecer. Ser efêmera e, ao mesmo tempo,
intangível. Inacessível às dores do irracional.
Se somente o amor fosse a razão de tudo isto, então seria
fácil. Mas não. Havia muitas outras coisas envolvidas, coisas que não poderiam
ser ditas, que deveriam ser guardadas, reprimidas. E isso era o que mais
consumia o coração de Alana. Ser deixada para trás era apenas um dos fatos que
construíam a torre de fatos de sua vida. Ela apertou o caule da rosa com força,
na tentativa de se agarrar à única coisa tangível de toda esta grande bagunça.
Reclinou-se para trás e deitou-se sobre a grama seca da entrada de sua casa. A
luz do sol era refletida pelas janelas translucidas das casas. O mundo girava,
sereno. Nada, afinal, traria uma solução repentina. A única cura? O tempo.